Soraya Smaili e Arturo Hartmann conversaram com o público que compareceu ao Centro Cultural São Paulo nesta quarta-feira, 2, para assistir ao filme sobre o intelectual palestino Edward Said.
A idealizadora da Mostra Mundo Árabe de Cinema e reitora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Soraya Smaili, conversou com o público que esteve no Centro Cultural São Paulo para assistir ao filme “Nós e os outros: Um retrato de Edward Said”, nesta quarta-feira, dia 2.
No bate-papo, Soraya falou sobre os 10 anos da Mostra e a obra do intelectual e ativista palestino Edward Said, inspirador e patrono do Instituto da Cultura Árabe. “É o último filme em que ele aparece desde a concepção até o seu final. Trata de sua vida, de como fez suas viagens internas, em sua descoberta como intelectual e engajado na questão palestina”, afirmou Soraya.
Morto em 2003 e alvo de críticas na imprensa, o pensador serviu de motivação, juntamente à repercussão dos atentados às torres gêmeas em 2001, para a criação do ICArabe. O Instituto foi idealizado em 2003 e criado no ano seguinte com o objetivo de promover a cultura árabe no Brasil e combater estereótipos. “Said fez uma desconstrução do orientalismo”, disse Soraya, sobre a mobilização do estudioso contra o pensamento implantado pela mídia de um modelo idealizado dos árabes que contribuiu para construir os consensos que permitem e legitimam atrocidades cometidas pelas grandes potências no Oriente Médio. Israel serve-se do mesmo artifício para submeter de maneira brutal os palestinos dentro e fora do seu território.
Said é autor do livro “Orientalismo”, que aborda esse processo de construção.
A obra é dividida em três partes: na primeira, o autor trata do alcance do orientalismo, na segunda, das estruturas do mesmo e no terceiro, do orientalismo na atualidade. Apesar de ter sido publicado na década de 1970, “Orientalismo” é uma obra fundamental na atualidade para compreendermos como o Ocidente inventou o Oriente.
Soraya também contou como o intelectual serviu de inspiração para a sua própria vida. “O Said me trouxe a consciência de que o verdadeiro intelectual é engajado. Na academia, o engajamento muitas vezes não é bem visto”, refletiu.
Ela falou ainda sobre a dificuldade de se colocar em prática a Mostra Mundo Árabe de Cinema, que teve sua primeira exibição em 2005 com o nome “Ciclo de Cinema Árabe”, e de como a Mostra tem sido bem sucedida em apresentar a cultura árabe aos brasileiros. “Talvez o cinema seja a forma mais rápida de assimilarmos semelhanças”.
Soraya também explicou que a curadoria das edições da Mostra teve objetivos específicos, como a 3ª edição, por exemplo, que procurou mostrar o trabalho de diretoras árabes, e a 4ª, que explorou a mistura entre cinema e poesia. A partir da 8ª edição, Geraldo Adriano Godoy de Campos assumiu a curadoria.
Diretor de Comunicação e Imprensa do ICArabe, Arturo Hartmann também participou do debate e falou sobre a importância de quebrar, por meio da Mostra, estereótipos utilizados ao se discutir temas árabes. “Especificamente, a questão palestina é muito dessa forma. Eles brigam porque é (por um motivo) religioso, brigam há milênios, todos esses mitos que vão sendo criados e seguem uma visão racional”, afirmou.
Para a estudante de letras Maria Carolina, 27, que assistiu ao debate, o cinema funciona como uma forma de atrair o público brasileiro para a cultura árabe. “Você traz o Edward Said em um filme, isso é muito importante para que o público brasileiro tenha interesse em ir atrás desses autores.”
Já a jornalista e cinéfila Célia Leal, 61, afirmou ter ficado empolgada com o debate. “Super esclarecedor, aprendi muita coisa que não conhecia sobre os países árabes. Fiquei super interessada, sou apaixonada por cinema, mas conheço muito pouco sobre o cinema árabe. Fiquei estimulada”, disse.
A 10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema segue até o dia 12 setembro. Clique aqui e confira a programação e os horários.